Por Nirlando Beirão
Toda vez que alguém fala ou escreve sobre Vladimir Putin, o presidente da Federação Russa, vem o adendo obrigatório: "ex-tenente-coronel da temível KGB".
É verdade: o cara foi um graduado espião no ocaso do regime soviético.
Na presente crise da Ucrânia, tentam contaminar Putin com as máculas do passado dele. Um incendiário autocrata. Frio e calculista. Obstinado candidato a czar. Alucinado pelo sonho imperial da Grande Rússia.
Mas, por ora, se tem alguém agindo com prudência (os desafetos irão dizer: frieza) é o malfalado Putin.
Interessa a ele evitar que o novo governo ucraniano, resultado de um golpe, parta para cima das minorias de fala russa no leste do país (em Donetsk, em Kharkiv, em Luhansk). Os ucranianos-russos do leste estão entrincheirados em prédios públicos e o governo central tem dado sucessivos ultimatos para que eles se dispensem.
Na sexta-feira, o primeiro-ministro tampão Arseni Yatseniuk vestiu pele de cordeiro e foi até Donetsk, todo paz e amor, para dizer que "a saída é política" – não militar.
No dia seguinte, de volta a Kiev, recebia por baixo do pano a visita do americano John Brennan.
Brennan não é espião. Ele é o chefe dos espiões. Diretor do CIA. O porta-voz da Casa Branca – tremendo cara-de-pau – disse que é "um absurdo" relacionar a visitinha do espião-chefe à situação de instabilidade na Ucrânia.
Não, Brennan deve ter ido fazer aquela deliciosa degustação de batatas com creme de leite – requinte da gastronomia local.
Não tem mocinho nessa triste história da Ucrânia. O governo que depôs o presidente eleito Viktor Yanukovitch – ele também um bandidaço – é uma mistura de neofascistas e de liberais sustentados pelos oligarcas da energia e da mineração.
A própria Yulia Tymosheko, tratada como vítima de cruéis autocratas ligados à Rússia, tem um currículo bastante duvidoso do ponto de vista da ética. Corrupcão, tráfico de influências são vocação dela.
A Europa e os Estados Unidos estão brincando com fogo na Ucrânia. Inclusive apoiando militarmente um ataque aos sublevados do leste. É de uma irresponsabilidade completa.
A Putin não interessa o confronto – ao contrário do que se diz. É para a Europa que vão as vitais exportações do gás russo. O confronto produziria um terrível baque econômico na Rússia. E, também do ponto de vista político, uma guerra civil na Ucrânia seria um duro desafio para Putin.
Deixar os ucranianos-russos à própria sorte? Ou se envolver num conflito que traria contra ele a execração de toda – ou quase toda – comunidade internacional?
Fonte: http://noticias.r7.com/blogs/nirlando-beirao/2014/04/14/acredite-o-unico-lucido-nessa-historia-da-ucrania-e-o-putin/
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