Em frente à Cúpula da Rocha da Mesquita de Omar, em Jerusalém, palestinos protestam contra ofensiva de Israel
Nestes tempos em que guerras centenárias são lembradas e conflitos sem fim ressurgem com nova força, é preciso ficar atento. Tanto pela importância histórica quanto pela atualidade de confrontos recorrentes, a temática bélica tem grandes chances de cair nos vestibulares e no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). E, para se dar bem em história e geografia, é importante acompanhar as últimas notícias: nelas podem estar informações fundamentais para a compreensão das perguntas.
Assunto frequente no noticiário é que o ano de 2014 marca o centenário da I Guerra Mundial, conflito que terminou em 1918 deixando consequências profundas no mundo inteiro. A Grande Guerra, que teve início com uma ofensiva da Áustria-Hungria à Sérvia, acabou envolvendo países dos cinco continentes e derrubando impérios, forjando alianças, redefinindo territórios e causando a morte de milhões de soldados e civis por todo o planeta. Ano sim, ano não, é questão praticamente certa nas principais provas de acesso à universidade.
Em pleno julho, Enem e vestibulares seguem em fase de elaboração, e as bancas estão atentas às novidades – que podem motivar questões cobrando a contextualização com eventos antigos que ainda mantêm importância histórica e persistem influenciando os rumos de alguns países. Ao colocar em cheque a neutralidade das nações e utilizar as armas mais destrutivas até então vistas, incluindo um inédito ataque de armas químicas, a I Guerra ajudou a estabelecer a realidade bélica aos tempos modernos. E há uma infinidade de temas que podem ser abordados nas provas: inclusive com relação ao Brasil.
– A UFRGS gosta muito dessas efemérides. Para 2014, é muito provável que caia algo sobre a I Guerra. Podem fazer uma relação com o papel do Brasil nesse contexto, talvez questionando como o país estava no período, política e economicamente – afirma o professor Alexandre Schiavoni, que dá aulas de história no Anglo Vestibulares em Porto Alegre. – É uma questão interessante de se abordar, até porque os efeitos acabaram sendo positivos para o Brasil. Seria também uma abordagem próxima à do Enem, experiência que a UFRGS tem feito ultimamente – conclui.
As consequências do conflito no país, que enquanto durou a guerra não pôde contar com produtos importados da Europa, incluem um surto industrial entre 1914 e 1918 que seria importante para o posterior desenvolvimento desse setor na Era Vargas, segundo Schiavoni. Ele levanta ainda a possibilidade de que esse desenvolvimento econômico nacional seja relacionado à situação brasileira em outras crises mundiais, como o crash de 1929 e a II Guerra Mundial.
No Oriente Médio, tensão em Israel e Gaza
Sem uma data marcante que motive sua cobrança nas provas, a escalada de violência entre israelenses e palestinos merece destaque por outro aspecto: é um conflito recorrente que recentemente ganhou nova projeção na tumultuada Faixa de Gaza. Como as raízes são antigas, é provável que esse confronto no Oriente Médio motive uma abordagem histórica, retomando importantes fatos de um passado nem tão distante. Os professores destacam que atualidades aparecem muito pouco na prova de história da UFRGS, mas são frequentes em questões de geografia e no Enem.
Nesse sentido, as diferenças entre as principais facções palestinas (Fatah eHamas), suas tendências religiosas e que áreas controlam – ou por quais brigam – são alguns dos pontos que podem cair nas questões. Ainda a derrocada dos impérios e como isso culminou no restabelecimento de fronteiras, com consequências políticas e socioeconômicas, deve estar na mira dos estudantes.
– Faz-se necessário dominar os mais importantes aspectos que permeiam o conflito da região, tais como a criação do Estado de Israel (1948), a Guerra dos Seis Dias (1967), a Guerra do Yom Kippur (1973), a Intifada e o surgimento do Hamas (1987), os acordos de Oslo (1993), entre vários outros – afirma Iair Grinschpun, professor de história dos pré-vestibulares Fênix e Unificado.
Grinschpun destaca que há, inclusive, uma conexão entre os conflitos no Oriente Médio e a I Guerra Mundial. Segundo o professor, a origem da maioria dos problemas atuais na região remonta exatamente à desagregação do Império Turco-Otomano ao final da Grande Guerra.
Assim, tanto o centenário de um conflito encerrado quanto a retomada de um confronto histórico, ambos presentes no noticiário, apresentam uma relação que exige olhar atento às novidades e aos aspectos históricos e pode em breve sair das páginas do jornal para as provas.
Soldados franceses saem de trincheira para atacar a Alemanha na Batalha de Verdun, em 1916 (Foto: AFP)
Primeira Guerra Mundial
Segundo o historiador Eric Hobsbawm (falecido em 2012), o século 20 é o mais curto da História. No seu entendimento, o século começou em 1914, data em que estourava a I Guerra Mundial (I GM). Esse conflito alterou completamente a dinâmica geopolítica mundial e, por isso, sua relevância é inquestionável.
A I GM é tema recorrente em concursos de vestibular. Como este ano marca o centenário do início dessa guerra, existe a chance de aparecer algum tipo de referência ao episódio, seja no Enem ou na prova da UFRGS. Usualmente, aborda-se o contexto imediatamente anterior à guerra: as disputas imperialistas, as rivalidades entre Alemanha e França ou Alemanha e Inglaterra, bem como os conflitos da região balcânica, onde a guerra propriamente começou. É possível também relacionar a I GM com o advento da Revolução Russa. Finalmente, pode-se analisar o mundo pós-guerra. Neste caso, convém ter noção sobre o Tratado de Versalhes e suas implicações, as mudanças na geopolítica mundial com o aumento de destaque para os EUA e o enfraquecimento europeu, além das mudanças fronteiriças resultantes da guerra, assinalando o surgimento de novos países e o fim de quatro grandes impérios (Alemão, Austro-Húngaro, Russo e Turco-Otomano).
Iair Grinschpun, professor de história do Grupo Unificado, do Fênix Pré-Vestibular e do Faça História
Palestinos caminham sobre escombros durante trégua humanitária na Faixa de Gaza em 26 de julho de 2014 (Foto: AFP)
Palestinos e israelenses
Muitas são as possibilidades que as provas de geografia da UFRGS e de Ciências Humanas do Enem podem trazer à tona sobre a situação de Gaza e Israel. Podemos tentar apostar em algumas abordagens. Ao invés de focar nas causas/consequências do conflito em si, as provas poderão trazer questões em que o aluno terá de relacionar o panorama político/econômico do Brasil frente aos momentos distintos do conflito, com afirmativas do tipo: “No conhecido 1º choque do petróleo, o Brasil importava dos países árabes cerca de 85% do petróleo utilizado. Hoje, mesmo frente às descobertas do pré-sal, o país ainda é um grande importador de derivados.”
Ou poderão fazer referência à participação brasileira em mais de 30 operações na história da ONU (Suez, Angola, Moçambique, Timor-Leste e Haiti, dentre outras) contradizendo a declaração “O Brasil é um anão diplomático”. Mencionar o atual momento em Gaza também pode ser uma estratégia das bancas para ilustrar e questionar sobre o entendimento de conceitos pertinentes ao conflito, como: nação/território/estado, laicismo e fundamentalismo, direitos humanos e as dinâmicas das populações frente à escassez de recursos básicos (água, comida, voz), antissemitismo, terrorismo e terrorismo de Estado. Ou, ainda, sobre os tipos de conflitos em si: guerra entre estados, guerra civil ou separatismo.
De qualquer maneira, o conflito remonta a décadas e está longe de ter um desfecho digno, em razão do fundamentalismo presente e atuante nos dois lados.
Alexandre Rosa, professor de geografia do Anglo Pré-Vestibulares
Fonte: http://zh.clicrbs.com.br/rs/vida-e-estilo/vestibular/noticia/2014/07/como-o-conflito-em-gaza-e-os-100-anos-da-i-guerra-podem-cair-nos-vestibulares-e-no-enem-4563559.html
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