terça-feira, 22 de julho de 2014

O Brasil dos BRICS: um jogador global

Cenários geográficos do mundo
Chefes de Estado do BRICS e da Unasul durante encontro em Brasília. O bloco incomoda

Os BRICS – acrônimo criado no início dos anos 2000 pelo banco Goldman Sachs para referir-se às principais economias emergentes no mundo: Brasil, Rússia, Índia, China e, mais recentemente adicionada ao grupo, África do Sul – realizaram sua sexta cúpula essa semana, dia 15 de julho, em Fortaleza. O encontro foi marcado pelo acordo assinado para a criação do Novo Banco de Desenvolvimento, que tem sido discutido desde 2012.
O grupo, que até então representava convergências mais políticas e ideológicas do que propriamente econômicas, se mostrou pronto para atuar de maneira mais consistente na proposição de uma nova ordem mundial. Nesse sentido, o Banco terá um aporte de 50 bilhões de dólares para o financiamento de projetos de desenvolvimento, especialmente infraestrutura. E apesar de assemelhar-se aos moldes de estruturas como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial, a proposta é justamente complementar essas instituições (ou, quem sabe, substituí-las), através de mecanismos mais equitativos entre os países credores e com exigências mais amenas aos países devedores. Além do Banco de Desenvolvimento, foi aprovado também um fundo de reservas de 100 bilhões de dólares para empréstimos, que poderá ser direcionado inclusive a países de fora dos BRICS.
Essas iniciativas partem da ideia de que o sistema financeiro internacional mudou, mas as instituições que o regulam não. Os moldes da atual economia mundial foram desenhados no pós-segunda guerra, quando os EUA destacavam-se como única potência industrial no mundo, e o sistema financeiro foi construído a partir desta realidade. Hoje Washington ainda detém o controle das principais instituições financeiras, mas já enfrenta acirrada competição econômica e financeira, principalmente frente à ascensão chinesa.
Assim, os países emergentes, sobretudo a China, buscam novos espaços para ampliar suas relações políticas e econômicas. É nesse contexto que se dá a aproximação dos BRICS aos países da Unasul – região produtora de alimentos e commodities, rica em petróleo e gás, e tradicionalmente crítica em relação à hegemonia de Estados Unidos e Europa. Nessa quinta-feira, após a cúpula dos BRICS se deu o encontro entre os presidentes sul-americanos e os líderes dos países dos BRICS. O Brasil, como liderança regional e membro dos BRICS, ao mesmo tempo em que se propõe a intermediar essa aproximação, se vê divido entre sua atuação global e sua atuação regional.
Apesar de ver na integração regional uma possibilidade de ascensão no nível global, o Brasil busca a maior preponderância internacional a despeito de suas relações com seus vizinhos. O perfil internacional brasileiro está em seu auge, com participação em todos os principais fóruns de países emergentes, BRICS, IBAS, grupo dos 20 da OMC (em que o Brasil foi o principal articulador) e G20 financeiro, mas ainda enfrenta dificuldade em conquistar seguidores regionais quando se trata de questões globais. Argentina, Colômbia e México, por exemplo, recusam amparar a candidatura brasileira por um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU.
Assim, dessa estratégia dúbia entre região e mundo, surgem algumas contradições com as quais a diplomacia brasileira terá de lidar nos próximos anos. Se o Brasil não investir nas relações regionais, os países sul-americanos encontrarão alianças externas, potencialmente prejudiciais a economia e política externa brasileiras. O contraste entre uma diplomacia brilhante e capacidades limitadas – com estrutura de exportação baseada em commodities, subdesenvolvimento, pouca infraestrutura – reforçam o contraste entre pouco investimento na região e ambições globais.
Fonte: http://www.sul21.com.br/jornal/o-brasil-dos-brics-um-jogador-global/

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