segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Embargo americano a Cuba pode estar perto do fim

Geografia Política e politizada



Em seu livro intitulado Decisões difíceis, Hillary Clinton escreveu, sobre Cuba: “ao terminar meu mandato, pedi ao presidente Obama que reconsiderasse nosso embargo contra Cuba. Não cumpre nenhuma função e obstrui nossos projetos com toda America Latina”. Foi a primeira vez que uma postulante à presidência dos Estados Unidos se manifestou publicamente contra o bloqueio. Hillary tem grandes chances de ser a candidata democrata nas próximas eleições presidenciais dos Estados Unidos. Ao afirmar sua posição sobre Cuba ele demonstra disposição para rebater as críticas dos republicanos e percepção da opinião pública norte-americana, cada vez menos favorável aos embargos.

Hillary Clinton reconhece que a política norte-americana é erro histórico. População concorda, mostram pesquisas. Agora, só direita e Obama parecem sustentar embargo 
No livro que se acaba de publicar sobre suas experiências como secretária de Estado, durante o primeiro mandato (2008-2012) do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, intitulado Decisões difíceis (1), Hillary Clinton escreve, a propósito de Cuba, algo fundamental: “ao terminar meu mandato, pedi ao presidente Obama que reconsiderasse nosso embargo contra Cuba. Não cumpre nenhuma função e obstrui nossos projetos com toda America Latina”.
Pela primeira vez, uma personalidade que aspira à presidência dos Estados Unidos afirma publicamente que o bloqueio imposto por Washington – desde mais de cinquenta anos! – à maior ilha do Caribe não cumpre “nenhuma função”. Isto é, não se tem permitido submeter esse pequeno país apesar do grande sofrimento injusto que se tem causado a sua população. Nesse sentido, o fundamental, na constatação de Hillary Clinton, são dois aspectos:
Primeiro, rompe o tabu, dizendo em voz alta o que desde muito tempo todos já sabem em Washington: que o bloqueio não serve para nada. E segundo, de maior importância, é declarar isto no momento em que arranca na corrida à candidatura do Partido Democrata à Casa Branca. Isto quer dizer, não teme que essa afirmação – na contracorrente de toda a política de Washington diante de Cuba no ultimo meio século – constitua, para ela, um obstáculo, na larga batalha eleitoral que tem daqui até as eleições de 8 de novembro de 2016.
Se Hillary Clinton sustenta uma postura tão pouco convencional, em primeiro lugar, é porque assume o desafio de responder sem temor as duras criticas que não deixaram de formular seus adversários republicanos, ferozmente hostis a toda mudança de Washington com respeito a Cuba. E, em segundo lugar, porque não ignora que a opinião publica estadunidense tem evoluído sobre esse tema, sendo hoje majoritariamente favorável ao fim do bloqueio.
Do mesmo modo que Hillary Clinton, um grupo de cinquenta importantes empresários (2), ex-altos funcionários estadunidenses de distintas tendências políticas e intelectuais, acaba de pedir a Obama, em carta aberta (3), que utilize as prerrogativas do Poder Executivo para introduzir mudanças mais inteligentes com relação a Cuba e se aproxime mais de Havana. Seria uma forma de minimizar o impasse, sabendo que o presidente dos Estados Unidos não possui a faculdade de acabar com o embargo — o que depende de uma maioria qualificada de democratas e republicanos no Congresso. Assinalam que a sociedade apoiaria este primeiro passo.
Com efeito, uma pesquisa realizada em fevereiro desse ano pelo centro de investigação Atlantic Council afirma que 56% dos estadunidenses querem uma mudança na política de Washington com Havana. E, mais significativo, na Florida, o Estado com maior sensibilidade neste tema, 63% dos cidadãos (e 62% dos latinos) desejam o fim do bloqueio (4). Outra consulta mais recente, realizada pelo Instituto de Investigação Cubano da Universidade Internacional da Florida, demonstra que a maioria da própria comunidade cubana de Miami (5) pede pelo fim do bloqueio à ilha (71% dos consultados considera que o embargo “não tem funcionado”, e uns 81% votaria por um candidato que substituísse o bloqueio por uma estratégia que promovesse o reestabelecimento diplomático entre ambos os países) (6).
Ocorre que, contrariamente às esperanças que surgiram depois da eleição de Barack Obama em novembro de 2008, Washington manteve-se estacionado em suas relações com Cuba. Justamente depois de assumir seu cargo de presidente, Obama anunciou – na Cúpula das Américas, celebrada em Trindad e Tobago, abril de 2009 – que daria um novo rumo nas relações com Havana.
Todavia, limitou-se a gestos pouco mais que simbólicos: autorizou que os estadunidenses de origem cubana viajassem à ilha e enviassem quantidades restritas de dinheiro a suas famílias. Depois, em 2011, adotou novas medidas, mas também de pequeno alcance: permitiu que grupos religiosos e estudantes viajassem a Cuba, consentiu que aeroportos estadunidenses recebessem voos da ilha e ampliou o limite de remessas que os cubanos-estadunidenses poderiam transferir a seus parentes. Pouca coisa, diante do formidável bloqueio que separa os dois países.
Entre as divergências, está o caso dos Cinco Cubanos (7), que tem comovido a opinião publica internacional (8). Estes agentes da inteligência de Havana, detidos na Florida pelo FBI em setembro de 1998 quando realizavam missões de prevenção contra o terrorismo anticubano, foram condenados a altas penas de prisão, num julgamento político típico da Guerra Fria (autêntico linchamento jurídico).
Condenação ainda mais injusta porque “Os Cinco” não cometeram nenhum ato de violência, nem procuraram informação sobre a segurança dos Estados Unidos. O único que fizeram, correndo riscos mortais, foi prevenir atentados e salvar vidas humanas. Washington não é coerente quando diz combater o “terrorismo internacional” e segue abrigando, em seu próprio território, grupos terroristas anticubanos (9). Sem ir mais longe, em abril passado, as autoridades da ilha detiveram um novo grupo de quatro indivíduos, vinculados a Luis Posada Carriles (10), vindo mais uma vez da Florida com a intenção de cometer atentados.
Tampouco há coerência quando acusam “Os Cinco” de atividades antiestadunidenses que jamais existiram, enquanto Washington segue empenhado em imiscuir-se nos assuntos internos de Cuba e na fomentação de mudanças do sistema político.
Há meses, voltaram a demonstrar tais intenções, nas recentes revelações sobre o assunto “ZunZuneo” (11), uma falsa rede social que uma agência do Departamento de Estado (12), criou e financiou ocultamente entre 2010 e 2012 com a intenção de provocar na ilha protestos semelhantes ao das “Revoluções Coloridas” do ex-mundo soviético, da Primavera Árabe ou das “Guarimbas” venezuelanas, para exigir depois, a partir da Casa Branca ou do Capitólio, uma mudança política. Tudo isso demonstra que Washington segue tendo sobre Cuba uma atitude retrógrada, tipicamente da Guerra Fria, etapa que terminou a quase um quarto de século.
Semelhante arcaísmo choca com a postura de outras potências. Por exemplo, todos os Estados da América Latina e do Caribe, quaisquer que sejam suas orientações políticas, têm estreitado ultimamente seus laços com Cuba, denunciando o bloqueio.
Pode-se comprovar isto no inicio do ano, na Cúpula da Comunidade dos Estados Latino Americanos e do Caribe (CELAC) reunida precisamente em Havana. Washington sofreu um novo desprezo no há pouco, em Cochabamba (Bolivia), durante a Assembleia Geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), quando os países latino-americanos – numa nova mostra de solidariedade com Havana – não participar da próxima Cúpula das Américas, que terá lugar em 2015 no Panamá, se Cuba não for convidada a participar.
Por sua parte, a União Europeia (UE) decidiu, em fevereiro, abandonar a chamada “posição comum” com relação à ilha, imposta em 1996 por José Maria Aznar, então presidente do Governo da Espanha, para “castigar” Cuba rechaçando todo dialogo com as autoridades da ilha. Porém, o gesto resultou estéril e fracassado.
Bruxelas tem reconhecido e dado inicio agora a uma negociação com Havana para alcançar um acordo de cooperação política e econômica. A UE é o primeiro investidor estrangeiro em Cuba e seu segundo sócio comercial. Com este novo espírito, vários ministros europeus já visitaram a ilha. Entre estes, em abril, Laurent Fabius, – primeiro chanceler francês que realizou uma visita a nação caribenha em mais de trinta anos – declarou que buscava promover as alianças entre as empresas dos dois países, bem como apoiar as companhias francesas que desejassem desenvolver projetos ou se fixar em Cuba (13).
Contrastando com o imobilismo de Washington, muitas chancelarias europeias observam com interesse as mudanças que estão se produzindo em Cuba, impulsionadas sobretudo pelo presidente Raúl Castro, no marco da atualização do modelo econômico e na linha definida em 2011 no VI Congresso do Partido Comunista de Cuba (PCC). Representam transformações muito importantes na economia e na sociedade. Em particular, a recente criação da Zona Especial de Desenvolvimento em torno do porto de Mariel — assim como a aprovação, em março, de uma nova Lei de Investimento Estrangeiro — suscitam um grande interesse internacional.
As autoridades consideram que não existe contradição entre o socialismo e a iniciativa privada (14). E alguns responsáveis estimam que esta última (que incluiria as inversões estrangeiras) poderia abarcar até 40% da economia do país, enquanto o Estado e o setor público conservariam 60%. O objetivo é que a economia cubana seja cada vez mais compatível com a de seus principais sócios na região (Venezuela, Brasil, Argentina, Equador, Bolívia), onde coexistem setor publico e setor privado, Estado e mercado.
Todas estas transformações sublinham, por contraste, o impedimento do governo estadounidense, autobloqueado em uma posição ideológica de outra época. Inclusive, como temos visto, cada dia são mais numerosos aqueles que, em Washington, admitem que essa postura seja equivocada e que, em relação a Cuba, os EUA têm urgência em sair do isolamento internacional. O presidente Obama saberá escutá-los?
Fonte: http://jornalggn.com.br/noticia/embargo-americano-a-cuba-pode-estar-perto-do-fim#.VCdHKZK2xrI.twitter

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Cuba dá o exemplo na luta contra o vírus ebola na África



Segundo as Nações Unidas, a epidemia do ebola de tipo Zaire, febre hemorrágica que atinge atualmente uma parte do oeste da África, particularmente a Serra Leoa, a Guiné e a Libéria, constitui a mais grave crise de saúde dos últimos tempos. No espaço de algumas semanas, o vírus se propagou em uma grande velocidade e a epidemia parece fora de controle. Trata-se da crise de ebola “maior, mais severa e mais complexa” observada desde o descobrimento da enfermidade em 1976. Altamente contagioso, o vírus é transmitido mediante o contato direto com o sangue e os fluídos corporais. Observou-se cerca de 5 mil casos e mais de 2400 pessoas perderam a vida. A Organização Mundial da Saúde fez um chamado urgente pedindo à comunidade internacional ajuda para as populações africanas abandonadas à própria sorte.
Cuba respondeu imediatamente à petição das Nações Unidas e da Organização Mundial da Saúde. Havana anunciou que mandaria, a partir de outubro, 165 profissionais da saúde para Serra Leoa, o país mais afetado pela epidemia, junto com a Guiné e a Libéria. A missão durará pelo menos seis meses e será composta por profissionais especialistas que já realizaram missões humanitárias na África.
Margaret Chan, diretora da Organização Mundial da Saúde, saudou o gesto de Cuba: “O que mais necessitamos são pessoas, profissionais de saúde. O mais importante para evitar a transmissão do ebola é ter as pessoas adequadas, os especialistas adequados e treinados apropriadamente para enfrentar esse tipo de crise humanitária”. O OMS lembra que “Cuba é famosa em todo o mundo por sua capacidade de formar excelentes médicos e enfermeiros. É famosa, além disso, por sua generosidade e solidariedade aos países no caminho para o progresso”.
Chan pediu que o resto do mundo, particularmente os países desenvolvidos, sigam o exemplo de Cuba e expressem a mesma solidariedade à África: “Cuba é um exemplo [...]. Tem tido a maior oferta de médicos, enfermeiros e especialistas, assim como de especialistas em controle de doenças infecciosas e epidemiologistas [...]. Espero que o anúncio feito hoje pelo governo cubano estimule outros países a anunciar seu apoio”. Em um comunicado, Ban Ki Moon, secretário-geral das Nações Unidas, também felicitou Cuba por sua ação : O secretário-geral recebeu calorosamente o anúncio do governo de Cuba.
A Science, a mais importante revista médica do mundo, também destacou o exemplo de Cuba. “Trata-se da maior contribuição médica enviada até o momento para controlar a epidemia. Terá um impacto significativo em Serra Leoa”. Até o anúncio cubano, a presença médica internacional no oeste da África somava 170 profissionais segundo a OMS. Agora, Cuba dará uma ajuda equivalente a todas as nações do mundo juntas.
Roberto Morales Ojeda, ministro cubano da Saúde, explicou as razões que motivaram a decisão do governo de Havana:
“O governo cubano, como tem feito sempre nesses 55 anos de Revolução, decidiu participar desse esforço global sob a coordenação da OMS para enfrentar essa situação dramática.
Desde o primeiro momento, Cuba decidiu manter nossas brigadas médicas na África, independentemente da existência da epidemia de ebola, em particular em Serra Leoa e na Guiné-Conakry, com a prévia disposição voluntária de seus integrantes, expressão do espírito de solidariedade e humanismo característico de nosso povo e governo”.
Cuba sempre fez da solidariedade internacional um pilar fundamental de sua política exterior. Assim, em 1960, inclusive antes do desenvolvimento de seu serviço médico e quando tinha acabado de perder 3 mil médicos dos 6 mil presentes na ilha (que escolheram emigrar para os Estados Unidos depois do triunfo da Revolução, em 1959), Cuba ofereceu sua ajuda ao Chile depois do terremoto que destruiu o país. Em 1963, o governo de Havana mandou sua primeira brigada médica composta de 55 profissionais à Argélia para ajudar a jovem nação independente a enfrentar uma grave crise de saúde. Desde aquele momento, Cuba estendeu sua solidariedade ao resto do mundo, particularmente à América Latina, à África e à Ásia. Em 1998, Fidel Castro elaborou o Programa Integral de Saúde, destinado a responder às situações de emergência. Graças a esse programa, 25 288 profissionais cubanos da saúde atuaram voluntariamente em 32 países.
Por outro lado, Cuba formou várias gerações de médicos de todo o mundo. No total, a ilha formou 38 920 profissionais da saúde de 121 países da América Latina, da África e da Ásia, particularmente mediante a Escola Latino-Americana de Medicina (ELAM), fundada em 1999. Além dos médicos que cursaram seus estudos na ELAM em Cuba (cerca de 10 mil graduados por ano), Havana contribuiu para a formação de 29 580 estudantes de medicina em 10 países do mundo.
O Operação Milagre, lançada em 2004 por Cuba e Venezuela, que consiste em tratar vítimas de catarata e outras enfermidades oculares nas populações do Terceiro Mundo, é emblemática da política solidária de Havana. Desde tal data, cerca de 3 milhões de pessoas de 35 países recuperaram a visão, entre elas 40 mil na África.
Depois do furacão Katrina, que destruiu a cidade de Nova Orleans em setembro de 2005, Cuba criou o “Contingente Internacional de Médicos Especializados no Enfrentamento de Desastres e Grandes Epidemias Henry Reeve”, composto de 10 mil médicos. A ilha, apesar do conflito histórico com os Estados Unidos, ofereceu sua ajuda a Washington, que a rejeitou. A partir desse contingente, Cuba criou 39 brigadas médicas internacionais que já atuaram em 23 países.
Na África, cerca de 77 mil médicos e outros profissionais da saúde cubanos forneceram seus serviços em 39 dos 55 países [do continente]. Atualmente, mais de 4 mil, mais da metade deles médicos, trabalham em 32 países da África.
No total, cerca de 51 mil profissionais da saúde, entre eles 25 500 médicos, dos quais 65% são mulheres, trabalham em 66 países do mundo. Desde o triunfo da Revolução, Cuba realizou cerca de 600 mil missões em 158 países com a participação de 326 mil profissionais de saúde. Desde 1959, os médicos realizaram mais de 1,2 bilhão de consultas médicas, assistiram 2,3 milhões de partos, efetuaram 8 milhões de operações cirúrgicas e vacinaram mais de 12 milhões de mulheres grávidas e crianças.
Cuba escolheu oferecer solidariedade aos povos necessitados como princípio básico de sua política exterior. Dessa forma, apesar das dificuldades inerentes a todo país de Terceiro Mundo, Cuba mandou seis toneladas de medicamentos e material médico para Gaza. É um exemplo entre muitos outros. Fidel Castro explicou as razões: “Esse é um princípio sagrado da Revolução; isso é o que nós chamamos de internacionalismo porque consideramos que todos os povos são irmãos e antes da pátria está a humanidade”. Havana demonstra para o mundo que, apesar de recursos limitados, apesar das sanções econômicas estadunidenses que asfixiam o país, sem abandonar sua própria população (com um médico para cada 137 habitantes, Cuba é a nação melhor servida do mundo), é possível fazer da solidariedade um vetor essencial da aproximação e da amizade entre os povos.
Fonte: http://www.sul21.com.br/jornal/cuba-da-o-exemplo-na-luta-contra-o-virus-ebola-na-africa/


segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Por que a Escócia não se tornou independente do Reino Unido?

A Escócia teve uma oportunidade única, após mais de 300 anos de debates, de se tornar independente. Por que a proposta foi rejeitada pela maioria? Especialistas apontam para 5 fatores

Escócia rejeitou a independência e continua no Reino Unido

Os escoceses tiveram a oportunidade histórica de decidir em plebiscito se queriam a sua independência do Reino Unido e rejeitaram a opção – 55% dos eleitores votaram contra a separação.
A decisão veio após meses de uma campanha acirrada. A campanha do “Sim” (pela independência) foi liderada pelo Partido Nacionalista Escocês. Apesar de predominante na política local, a proposta do partido foi derrotada pela campanha do “Não”.
Mas quais foram os fatores que acabaram influenciando o voto pelo “Não”? Especialistas apontam para 5 fatores:

1. O “Não” sempre foi o favorito

No começo da campanha, o “Não” já liderava. Quando o acordo de Edimburgo – que abriu caminho para realização do plebiscito – foi assinado, no dia 15 de outubro de 2012, pesquisas de opinião indicavam que um terço dos 4,2 milhões de eleitores escoceses queriam a independência.
Uma série de pesquisas nos próximos 18 meses sempre deram vitória ao “Não”.
Até junho deste ano, foram 65 pesquisas – e 64 indicavam uma vitória do “Não”.
“O ‘Não’ sempre foi favorito, por isso a pesquisa YouGov/Sunday Times publicada há dez dias, indicando vitória do “Sim”, criou tanta comoção”, disse o especialista em pesquisas de opinião, John Curtice.
Mas logo em seguida, novas pesquisas já indicavam uma vitória do “Não” novamente, e isso se sustentou até o dia da votação.

2. Os escoceses se sentem britânicos

Muitos acreditam que houve um renascimento no sentimento de “ser britânico” na Escócia – talvez provocado justamente pelo plebiscito.
Algumas pesquisas de opinião perguntam aos escoceses se sua identidade nacional é “britânica” ou “escocesa”. A resposta majoritária é “escocesa” – mas esse índice caiu de 75% para 65% entre 2011 e 2014. A resposta “britânica” cresceu de 15% a 23% no mesmo período.
“No fim das contas, a Escócia se sente moderadamente britânica”, diz Curtice.

3. O fator risco

A campanha pelo “Não” foi atacada pelos partidários do “Sim” por ser negativa demais. Alguns chegaram a falar em “Campanha do Medo”.
No entanto, o “Não” – cujo nome oficial de campanha era “Melhor Juntos” – foi bem-sucedido em “demover as pessoas da perspectiva de assumir um risco que não seria necessário”, nas palavras de Curtice. Dois dias antes do plebiscito, 49% das pessoas viam a independência como um fator de risco.
Em abril, o líder do partido nacionalista escocês e primeiro-ministro do Parlamento local, Alex Salmond, disse que a campanha do “Não” era “a mais baixo astral, negativa, deprimente e entediante” dos últimos tempos. Em contraste, ele classificava sua campanha pelo “Sim” como “positiva, empolgante e emocionante”.
A campanha do “Melhor Juntos” sempre negou as acusações, e disse defender as conquistas da Escócia dentro do Reino Unido.
O premiê britânico, David Cameron, que fez campanha pelo “Não”, alertou aos escoceses sobre os custos de um “divórcio doloroso”.

4. A disparada recente do “Sim” causou uma reação do “Não”

Uma pesquisa do YouGov/Sunday Times a apenas dez dias do pleito mostrou pela primeira vez uma vitória do “Sim”. Pela primeira vez, havia perspectiva clara de independência da Escócia.
A resposta do “Não” foi imediata. Líderes do governo e da oposição britânicas cancelaram seus compromissos e viajaram à Escócia. Até mesmo a bandeira escocesa foi içada em Downing Street, o escritório do premiê britânico em Londres.
O ex-premiê britânico Gordon Brown, que é escocês e ainda é bastante popular na região, divulgou um calendário para dar mais poderes ao Parlamento escocês, no caso de a Escócia permanecer no Reino Unido.
Os líderes dos três maiores partidos assinaram uma promessa conhecida como “fórmula Barnett” para dar mais poderes – e dinheiro – à Escócia.

5. Mais ricos ou mais pobres?

Essa foi uma das principais questões para os escoceses ao longo de toda a campanha.
A economia foi o principal palco de batalhas, com discussões sobre moeda, petróleo e investimentos. A vitória do “Não” sugere que os escoceses não estão convencidos de que a independência trará mais prosperidade.
A libra esterlina esteve no centro do debate. Os escoceses pró-independência prometeram negociar a manutenção da moeda, argumentando que isso estaria no interesse do Reino Unido e da Escócia. Mas isso foi rejeitado pelo governo em Londres desde o princípio.
Outro assunto debatido ferrenhamente foi a divisão do petróleo do Mar do Norte.
O governo escocês divulgou um estudo que argumentava que cada escocês estaria cerca de R$ 3 mil mais ricos em 15 anos. No entanto, esses dados foram contestados pelos britânicos.
Em última instância, não há resposta clara para essas perguntas, já que as condições concretas de uma Escócia independente só seriam negociadas caso o “Sim” tivesse vencido o plebiscito.
Mas a vitória do “Não” indica que os escoceses não se convenceram dos argumentos econômicos dados pela campanha separatista.
Fonte: http://www.pragmatismopolitico.com.br/2014/09/independencia-da-escocia-5-motivos-para-rejeicao.html

terça-feira, 16 de setembro de 2014

ONU: racismo no Brasil é ‘estrutural e institucionalizado’

Geografia Humana e humanizada

Peritos da entidade concluíram o relatório afirmando que o “mito da democracia racial” ainda está presente na sociedade brasileira e que boa parte dela ainda “nega a existência de racismo”

O racismo no Brasil é “estrutural e institucionalizado” e “permeia todas as áreas da vida”. A conclusão é da Organização das Nações Unidas (ONU), que publicou nesta sexta-feira (12) seu informe sobre a situação da discriminação racial no país. Os peritos da entidade concluíram o relatório afirmando que o “mito da democracia racial” ainda está presente na sociedade brasileira e que boa parte dela ainda “nega a existência de racismo”.
“O Brasil não pode mais ser chamado de uma democracia racial e alguns órgãos do Estado são caracterizados por um racismo institucional, nos quais as hierarquias raciais são culturalmente aceitas como normais”, destacou a ONU.
Os técnicos da entidade estiveram no país entre os dias 4 e 14 de dezembro de 2013 e constataram que os negros são os que mais que mais são assassinados, os que têm menor nível de instrução, os menores salários, o menor acesso á saúde, os que morrem mais cedo e o que menos participam no Produto Interno Bruto (PIB).
A ONU sugere que se “desconstrua a ideologia do branqueamento que continua a afetar as mentalidades de uma porção significativa da sociedade”. Mas falta dinheiro, segundo o órgão, para que o sistema educativo reforce aulas de história da população afro-brasileira, um dos mecanismos mais eficientes para combater o “mito da democracia racial”.
Outra preocupação é relativa à violência policial, frequentemente empregada contra jovens negros: o direito à vida sem violência não está sendo garantido pelo Estado para os afro-brasileiros, afirmou a entidade.
“O uso da força e da violência para o controle do crime passou a ser aceito pela sociedade como um todo porque é perpetuada contra um setor da sociedade cujas vidas não são consideradas tão valiosas”, pontua o relatório.
Fonte: http://www.sul21.com.br/jornal/onu-racismo-no-brasil-e-estrutural-e-institucionalizado/

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Os números do crescimento econômico em 2014: afinal, a economia brasileira está tão ruim assim como dizem algumas manchetes?

Os números do crescimento econômico em 2014: afinal, a economia brasileira está tão ruim assim como dizem algumas manchetes?

Geografia política e politizada

Por André Passos Cordeiro*
Dia 29 de agosto passado, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou o Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre de 2014. O valor apurado significou uma queda no PIB em relação ao primeiro trimestre de 0,6%. Assim, o PIB brasileiro registrou duas quedas consecutivas, já que no primeiro trimestre houve queda de 0,2% em relação ao quarto trimestre de 2013. Foi o suficiente para os pessimistas de plantão apontarem a existência de um processo recessivo (diminuição do tamanho da economia) no Brasil. Uma “recessão técnica” dizem. Algo que acontece quando temos o encadeamento de dois trimestres em queda.
Por que dois trimestres e não dois meses, ou dois bimestres? Não há explicação, é só uma convenção… Para visualizarmos o limite desta convenção, lembremos que é possível conviver dentro de um mesmo ano com a queda referida (dois trimestres em sequência) e ainda assim terminar o período com o PIB em alta – o que, por óbvio, não é recessão. Aliás, é o que aconteceria se contássemos o ano de junho a junho (o que os economistas chamam de “acumulado 12 meses”): mesmo com dois trimestres de queda, o PIB dos últimos 12 meses cresceu 1,5%. O mesmo acontece se compararmos períodos iguais como, por exemplo, o primeiro semestre deste ano com o do ano passado: neste caso registramos um PIB 0,49% superior ao de 2013. Como crescimento não é recessão, então…
Isto deve nos tranquilizar? Não. Mas também não deve dar vez à depressão ou à terra arrasada… O número do PIB revela exatamente, e exclusivamente, um fato: a economia brasileira está crescendo pouco. Mas esta conclusão, tomada isoladamente, não diz absolutamente nada. Vamos trazer à cena economias de tamanho parecido com a brasileira, em termos de PIB, para responder a seguinte pergunta: o que se passa aqui está totalmente fora de contexto?
Para tanto, tomemos as dez maiores economias do mundo, entre as quais o Brasil é a sétima, e vejamos o desempenho das nove economias que dividem com o Brasil este seleto grupo.
Apenas duas destas economias, China e Índia, tiveram crescimento médio anual acentuado entre 2009 e 2013 (pós-crise de 2008) e em valores superiores ao crescimento brasileiro. As demais cresceram, em média, muito abaixo do Brasil. Quanto a 2014: excetuando Estados Unidos, Índia e China, que tiveram crescimento acima de 1% ao trimestre em média, todas as demais economias registraram crescimento médio próximo a zero ou negativo. Veja:
Taxas de Crescimento do PIB no pós-crise de 2008 – 10 maiores economias do mundo
ANDRÉ PASSSOS - TABELA PIB
Fonte :1. 2009-2013: Banco Central, retirado de CGEE – 20 anos de economia brasileira.
2. 2014: http://pt.tradingeconomics.com/brazil/gdp-growth
Assim, em termos de crescimento econômico, não estamos em pior situação do que as outras nove maiores economias do mundo, considerando o período pós-crise de 2008. Sofremos o mesmo solavanco: em alguns anos crescemos mais, em outros menos. Mas, considerando o período todo, crescemos mais do que a média e mais do que a ampla maioria. E, em 2014, muitos estão sofrendo com um baixo crescimento, e o Brasil não é exceção.
Quando combinamos outros dois importantes indicadores – inflação e desemprego – ao indicador de crescimento, vemos melhorar o desempenho brasileiro. Observemos primeiro a média de 2009 a 2013. Neste período a inflação brasileira foi maior do que a média das outras nove maiores economias – um desvio de 2,1 pontos percentuais – e, no entanto, nosso crescimento foi maior que esta mesma média, e mais do que o dobro da maioria (à exceção de China e Índia). Além disso, o desemprego foi menor (à exceção de China, Índia e Japão) do que a média.
Entre as 10 maiores economias do mundo, a de melhor desempenho nestes indicadores é a China, com uma inflação mais baixa combinada a menor desemprego e maior crescimento. A maioria das restantes tem, claramente, um pior desempenho que o Brasil no período. Mantém somente a inflação baixa e penaliza suas populações nos outros dois indicadores, ou sequer controla a inflação: cinco economias apresentaram inflação mais baixa (EUA, Alemanha, França, Itália, Reino Unido), mas pagaram a conta disto com taxas de desemprego maiores e crescimento menor, e uma (Rússia) apresentou inflação mais alta, crescimento mais baixo e maior desemprego. As duas restantes (não estamos considerando o Brasil), Japão e Índia, apresentaram melhor resultado em dois quesitos: o primeiro obteve inflação mais baixa com menor desemprego, mas pagou o preço com mais baixo crescimento e o segundo, inflação mais alta com maior crescimento e menor desemprego. Resumindo, das sete economias que obtiveram inflação mais baixa que o Brasil, apenas uma não pagou o preço com mais baixo crescimento ou mais alto desemprego: a China.
Taxa de Inflação no pós-crise de 2008 – 10 maiores economias do mundo
ANDRÉ PASSOS - TABELA INFLAÇÃO
Taxa de Desemprego no pós-crise de 2008 – 10 maiores economias do mundo
ANDRÉ PASSOS - TABELA - DESEMPREGO
Como o crescimento econômico é base para o emprego, como sem emprego não há renda para dar conta das despesas necessárias à vida do ser humano e como um mau desempenho no controle da inflação torna mais difícil adquirir os bens e serviços que se necessita ou deseja, a agenda da política econômica (especialmente fiscal e monetária) tem que balancear seus objetivos levando em conta os três indicadores nos estreitos limites estruturais da economia nacional e da conjuntura internacional.
A resposta à questão que fizemos no terceiro parágrafo é, então: “o que ocorre no Brasil está dentro do contexto internacional”. Mais, dada a situação estamos com uma performance acima de outros países do mesmo porte no pós-crise de 2008.
Para concluir. Em 1977, 37 anos atrás, o Congresso americano estabeleceu quais os objetivos de sua política econômica, através de uma emenda do Congresso americano ao “The Federal Reserve Act”. Este statement ficou conhecido como Dual Mandate. Eis a emenda:
“The Board of Governors of the Federal Reserve System and the Federal Open Market Committee shall maintain long run growth of the monetary and credit aggregates commensurate with the economy’s long run potential to increase production, so as to promote effectively the goals ofmaximum employment, stable prices and moderate long-term interest rates.”1
Estavam, e ainda estão certos. Não faz mais nenhum sentido medir a saúde de uma economia por seu desempenho em um único indicador, seja ele taxa de inflação, crescimento ou emprego. É preciso medi-la, no mínimo, já que poderíamos incorporar outros indicadores mais, levando em conta a melhor combinação dos três a cada momento histórico. Aliás, está mais do que na hora de modificar o nosso sistema de metas de inflação, baseado unicamente na meta de stable prices e incorporar, formal e definitivamente, a outra ponta: maximum employment and moderate long-term rates.
“O Conselho de Governadores do Sistema da Reserva Federal e o Comitê Federal de Mercado Aberto deverão manter o crescimento de longo prazo dos agregados monetários e de crédito concomitante ao potencial de longo prazo da economia para aumentar a produção, de modo a promover eficazmente os objetivos de emprego máximo, preços estáveis e taxas de juros de longo prazo moderadas.”
* Economista, Mestre em Ciência Política
Fonte: http://www.sul21.com.br/jornal/os-numeros-do-crescimento-economico-em-2014-afinal-a-economia-brasileira-esta-tao-ruim-assim-como-dizem-algumas-manchetes/#comment-368910

terça-feira, 2 de setembro de 2014

Plebiscito mobiliza cidadãos para reforma política

Geografia Política e politizada


Inspiradas nas mobilizações que levaram milhares de pessoas às ruas em 2013, Entidades Sociais de todo o País estão promovendo uma grande votação para garantir a realização de uma Assembleia Constituinte exclusiva para debater e promover uma Reforma Política efetiva e alinhada aos interesses dos cidadãos.
Plebiscito Constituinte ocorre durante esta semana (de 1º a 7 de setembro) e pretende reunir 10 milhões de votos. Todos os cidadãos brasileiros com mais de 16 anos e que possuam título de eleitor podem participar da votação via site ou em urnas espalhadas por quatro cidades gaúchas. Basta responder a seguinte questão: “Você é a favor de uma Constituinte Exclusiva e Soberana do Sistema Político?”.
Por ser uma expressão concreta de exercício de cidadania, e por ter, em sua missão, o compromisso de formar cidadãos comprometidos com a sociedade, a Rede Marista apoia a iniciativa e está mobilizando suas Unidades e colaboradores a participarem da votação.
Na PUCRS, quatro urnas estão disponíveis nos seguintes locais e horários:
Recepção do Prédio 17 (Pastoral): 2ª a 6ª feira (8h às 19h)
·         Saguão do Prédio 7 (FAMECOS): 2ª feira
·         Saguão do Prédio 5: 3ª feira
·         Saguão do Prédio 11: 4ª feira
Paralelamente à votação do plebiscito, iniciativa da Plenária Nacional dos Movimentos Sociais Brasileiros, a Coalizão pela Reforma Política Democrática e Eleições Limpas, que reúne 95 entidades, movimentos e organizações sociais busca assinaturas para levar ao Congresso oProjeto de Lei de Iniciativa Popular pela Reforma Política.
Entre as principais reivindicações, o projeto prevê o fim do financiamento de campanhas eleitorais por empresas privadas, limite para doação de pessoa física a partidos, eleição para o Legislativo em dois turnos e garantia da liberdade de expressão aos cidadãos durante os debates eleitorais. Para ser oficialmente apresentada ao Congresso e comece a tramitar, o projeto precisa do apoio de 1% do eleitorado (1,5 milhão de assinaturas) do País. 
Fonte: http://maristas.org.br/institucional/plebiscito-constituinte-pela-reforma-politica

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

"Eu tenho dó dela', diz goleiro Aranha sobre jovem que o ofendeu em jogo

Às vezes a gente deixa passar, finge que não ouve, mas por dentro dói', diz Aranha. Goleiro do Santos desabafa sobre ofensas sofridas em partida.



Aos 33 anos de idade, com 15 de futebol profissional, ele se viu acuado no estádio. O goleiro Aranha, do Santos, foi ofendido por torcedores do Grêmio na quinta-feira (28).
O time identificou cinco agressores até agora. Patrícia Moreira acabou se tornando um símbolo deles. Confira no vídeo acima a íntegra da entrevista com o goleiro.

Aranha: Eles vinham na muretinha como se fossem saltar e vir para cima e eu estava preparado.
Fantástico: Para quê?
Aranha: Para o que der e viesse.
Fantástico: Você achou que eles iam te atacar?
Aranha: Sim, por que não? A raiva que eles estavam, porque eles ficaram mais nervosos porque eles acharam que como a maioria faz, como eu mesmo já fiz várias vezes ali, até mesmo ano passado, a gente escuta e finge que não ouve.

Na quinta-feira, Aranha não fingiu. “E aí quando eles começaram a emitir som de macaco, aí eu não tive dúvida, aí eu não aguentei. Aí eu falei: ‘Ah, vou ter que estourar, é agora, não tem jeito’. Porque às vezes a gente tem que dar uma de louco, como a gente fala, senão ninguém presta atenção, ninguém te escuta”, conta o goleiro.
Fantástico: Você já tinha passado por essa situação?
Aranha: Centenas e milhares de vezes. No futebol isso infelizmente é normal.

Aranha diz que o problema é de todos. “Sempre quando acontece de acontece briga no estádio, esse negócio de racismo, de vandalismo, aí a gente costuma dizer, os clubes e todo mundo costuma dizer, ‘não são torcedores, é a minoria’. Mas a minoria manda? Se tinha duas mil pessoas ali atrás e cinco estavam tomando essa atitude, por que as outras pessoas não cobraram delas uma postura melhor?”, questiona Aranha. 
O Grêmio, que ainda pode ser punido até com a exclusão da Copa do Brasil, identificou cinco agressores até agora. Patrícia Moreira acabou se tornando um símbolo deles.

Fantástico: O que você achou dessa moça, quando você viu ela falando 'macaco', e aquela imagem bem fechada nela.
Aranha: Eu tenho dó dela. Como ser humano, e pelas consequências.

Patrícia perdeu o emprego, a casa dela foi apedrejada e ela deve depor nessa segunda-feira (1º) na polícia de Porto Alegre.
Aranha diz que aprendeu a enfrentar o preconceito ouvindo rap. 
“Eu tive a felicidade de aprender muito com o rap, porque esse pessoal, como sempre foi um pessoal sofrido e acusado e agredido. É um pessoal bem informado sobre política, sobre religião, sobre a sua história, a história do seu país. Como na periferia a gente ouve muito isso, porque é aquilo que está na nossa realidade, eu cresci preparado para esse tipo de situação”, diz Aranha. 
Fantástico: Fora dos estádios você também tem problema? Sofre com o racismo?
Aranha: Tem, tem. Isso aí muita gente tem. A gente vale o que tem. Ou o nome que tem. Eu sei que muitas vezes eu não sou aceito, eu sou tolerado. Porque sou o goleiro do Santos, bicampeão mundial. E porque eu tenho um carro bonito, porque eu compro isso, eu compro aquilo. Então muitas vezes eu sou tolerado, não sou aceito. Eu já morei em prédios, minha família está de testemunha, que não me davam nem bom dia.

Fantástico: A sua família acaba sendo atingida também, sofre com isso tudo, o teu enteado. Meu filho, é. Ele acabou colocando que tem orgulho de ter um pai negro.
Bernardo Maron, enteado de Aranha: Eu estava assustado, triste, porque eu não esperava que ainda esse pensamento ainda estava na cabeça das pessoas, pensava que tinha acabado.

Na noite de quinta, Bernardo, de 13 anos, entrou em uma rede social para dar apoio ao pai. “Eu fiquei quietinho na minha aí eu fui lá e pensei em escrever isso: ‘Eu já cansei disso, que isso é uma palhaçada e que eu tenho orgulho de ter um pai negro’”, conta ele.

Depois, telefonou para ele. “Eu falei: ‘força, pai, eu te amo’”, conta o menino.
“A gente já prepara uma conversa antes porque sabe que no próximo dia de escola vai ter aquela polêmica, ‘nossa, o que aconteceu com o seu pai’, só que graças a Deus eles são muito maduros, o futebol amadureceu até os meus filhos”, diz Juliana Costa, mulher de Aranha.
Na manhã seguinte, em um comunicado, Aranha citou um discurso de Martin Luther King, o famoso ativista americano assassinado em 1968 que lutou pela igualdade racial.
“Eu citei um trecho do Martin Lutther King, "I Have a Dream", que ele fala que ele tem um sonho que todas as pessoas fossem julgadas não pela cor da pele, mas pelo conteúdo do seu caráter”, diz o jogador.
Fantástico: Nos estádios, qual seria a punição para que isso não voltasse a se repetir?
Aranha: Essa mocinha aí, nunca mais pisar na Arena. Porque outras pessoas vão falar 'se eu tomar uma atitude dessas, se eu for flagrado, eu nunca mais vou acompanhar o time que eu gosto'. O futebol está caminhando para um lado de empresa, de espetáculo, mas as pessoas que vão assistir têm que se comportar como tal. Eu acho que a principal punição tem que ser essa, da pessoa nunca mais pisar no estádio, em um lugar público, porque ela me xingou ali, mas tinha vários outros negros ali.

Fonte: http://g1.globo.com/fantastico/noticia/2014/08/eu-tenho-do-dela-diz-goleiro-aranha-sobre-jovem-que-o-ofendeu-em-jogo.html